sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Quando olho para o céu sinto-me completa. É como ver o mar, que me acolhe e acalma.
Quando olho para o céu eu renovo as forças. É como um banho gelado em um dia tão quente.
Revigora.
Sinto falta das nuvens.
Me perco no nascer.
Me encontro no se pôr.
É sorte ter algo para amar nessa terra tão seca, tão fria, vazia.
Essa luz que vem e vai, mas sempre tão forte.

Queria enxergar esse tudo que as pessoas falam de mim. Me olhar através do espelho e conseguir ver além. São tantas lutas que perdi as contas. Já foram muitas vitórias, mas o cansaço vem e ele não tem pena. Não consigo sentir aquilo tudo que me movia e nem acreditar quando dizem que dentro de mim tem algo forte e lindo que me move. Eu não enxergo o rumo, nem a verdade. Fico à espera do pano, composto por mentiras, cair. Sim, eu espero lentamente pelo momento em que tudo vem à tona e descubro que mais uma vez fui ingênua e dei chances demais, amor demais, carinho demais, ao que só iria me derrubar. 
Me perdoa, Zé.
Levaram tudo.
Lembra do tempo no quintal em que eu dava meu melhor sorriso e você me olhava nos olhos enquanto dizia o quanto eu era maravilhosa?
Eu não sabia que iriam fazer isso comigo, Zé.
Se soubesse tinha partido antes.
Tinha trancado isso aqui tudo.
Ninguém ia me ferir.
Me perdoa, Zé.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Inesperado

O inesperado é o que muda nossas vidas." 

Pode ser um sorriso, um abraço ou apenas um olhar. A mudança vem de onde e quando menos esperamos. Por muito tempo eu permiti marcar apenas o que feriu. Mas as coisas boas também deixam cicatrizes e essa eu não poderia deixar passar.

Em alguns momentos de coragem eu me permito abrir a porta e deixar entrar o calor que aquece o peito e coloca um sorriso bobo em meu rosto. Ah como eu queria me ver pelos teus olhos nesses minutos de felicidade.

Teu olhar me atravessa, doce, sutil e silencioso - fazendo estremecer dentro de mim paredes que eu acreditava estarem sólidas, mas não estão. E quando vejo teu sorriso surgir de lado eu sei que o tempo para um breve momento para apreciar essa bolha de felicidade.

E eu sei, é pequeno, jovem e delicado o que existe aqui, mas vale o risco. Eu já estive perdida em outros olhares antes, mas nenhum que valesse o suficiente para eu registrar.

Um desvio. Inesperado. Preciso.

Digito algo, coço meu queixo, um sorriso bobo, apago. 

Tamborilo os dedos no teclado e mordo o lábio.

Relembro como você me observa até me deixar sem graça e você sabe bem como fazer isso.

Deixo o fim em aberto, assim como a porta desse lugar, na esperança de que voltarei mais vezes e encontrarei a toalha pendurada no banheiro, como quem abriu um lugar na vida também.

Inevitável

"A verdade sobre a verdade é que ela machuca. Então, a gente mente."


A gente mente que não vai mais voltar, mas voltamos. Voltamos ao lugar em que fomos feridos porque qualquer coisa é melhor que o nada, até mesmo a dor. O sentimento de conforto, o reconhecimento, tudo que nos traz de volta ao momento em que éramos inteiros. E talvez tenhamos sido, há um longo tempo atrás. Quando não existia um terreno incerto, traiçoeiro,duvidoso, que abriria um abismo entre nós.


Eu venho sufocando todas as coisas que poderiam me causar sofrimento e me distanciar era uma delas. Inevitável. Essa palavra define o que aconteceria. Cedo ou tarde o passo para longe teria que ser dado e lidar com o silêncio dessa sala é angustiante, mas também torna o ar mais leve.


Em alguns momentos tenho alguém segurando minha mão e nessas horas eu sinto o chão debaixo dos meus pés, me guiando como quando estou dirigindo e perco a noção de estabilidade, me obrigando a procurar algo fixo. Me concentro nisso e consigo retornar ao momento real. 

Um arrepio percorre meu corpo enquanto observo a porta entreaberta. 

domingo, 16 de setembro de 2018

Âncora



Abriu o armário e tirou aquela velha roupa. Costumava guardar algo que há tanto não mais lhe cabia. Respirou perto,imaginando sentir um cheiro que já se perdeu entre idas e vindas. Sentou na cadeira de balanço, olhando a janela por entre a cortina que escondia um fim de tarde. O início da noite costumava mexer com ela, remoendo antigas saudades, aflorando lembranças. 



Descansava perdida entre seus silêncios sem saber pra onde iam. Com sentimentos ancorados sem direção, vagando no mar que era seu peito aberto. Engasgada com perguntas sem respostas. Olhos pesados, sobrecarregados de lágrimas não derramadas.


Era preciso coragem para ela que sente demais.
Era preciso calor para ela que se fechou.
Era preciso o toque dele para ela que não acreditava mais.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Capitão Gancho

"Se não fossem as minhas malas cheias de memórias
Ou aquela história que faz mais de um ano
Não fossem os danos
Não seria eu"



Quantas coisas, lembranças e pessoas fazem de você o que você é hoje?
Quantas vezes tentamos esquecer ou se possível, apagar detalhes que nos marcam de uma forma tão profunda?
Mas por maior que seja o abismo em que tentamos escondê-las, elas voltam a superfície e não vem com leveza, aos poucos.
Não podemos desconstituir o que somos ou o que amamos.
À medida em que o tempo passa nos tornamos mais fortes, sólidos e coerentes ou não.
E é exatamente com esse passar de horas e anos que vemos as partes boas de tudo aquilo que nos aconteceu.
Costumava acreditar que tudo tinha um motivo, por mais dolorido que fosse, tinha que haver. 
Hoje, já não sei bem nem que idade habita em mim, alguns costumes se perderam e crenças também.
Me pergunto por que parti. Acho que o fim de certas coisas são inevitáveis e definitivamente fui no tempo certo.
Já não sei porque retorno. Talvez fosse a hora pra dizer que apesar de todo o caos eu sempre estive aqui. Sem coragem o suficiente para atravessar o mar de palavras soltas que deixei e dizer o que precisava ser dito. 
Havia calmaria e paz por aqui. Veio um vento forte, levou cada coisa para um lado, mas hoje tudo está em seu lugar.
Ensaiei por dias as palavras que precisava dizer e me vejo parada na porta sem lembrar uma delas sequer.
Talvez eu continue aquela mesma menina de anos atrás.
Talvez eu nunca tenha a coragem que você acreditava que eu tinha, mas saber que alguém não desistiu é uma lembrança constante que levo comigo, principalmente nos dias difíceis.


terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Tempo

"Saturno entrou em Libra."  - Costumo dizer isso quando algo não vai bem e " Escorpião reside aqui" quando realmente algo não vai bem. Seja lá o que isso signifique, eu repito até que tudo se resolva ou ao menos eu passe a pensar assim, já que não sei o real significado do meu mantra.
Acho que no fim das contas perdi o jeito com as palavras.
São rascunhos, borrões, idealizações não pronunciadas por anos.
ANOS.
Passaram tão depressa que nem acredito que algo me trouxe até aqui novamente.
Um presságio me mostrava que eu voltaria, mas não acreditava que teria um estopim assim, tão rápido.
Voltei a ler, não com calmaria, devorando.
Coloquei aquela velha música, daquele beijo lá pra fim de julho. Ainda consigo sorrir ao ouvi-la e pensar em quantas coisas mudaram e em quem me tornei ao longo de todos esse anos.
Mais uma vez, ele, o temido, tempo.
Dez anos se passaram desde que escrevi a primeira vez, coisas tão desconexas quanto as que escrevo agora, quase que apenas transformando em virtual as mesmas palavras que escrevia nos diários mais inseguros que a Terra já viu.
Meus pulsos doem.
Penso em quantas horas de sono eu ainda tenho e em como me sinto uma senhora de idade, incapaz de me prender até pelo meu maior vicio e durmo.
Durmo pesado, mas sem descanso.
Durmo muito, durmo pouco.
Não tenho sonhos.
Eles estiveram por aqui no início, mas ultimamente se escondem perdidos por aí.
Me pergunto sobre o que se trata esse texto afinal de contas e percebo que é sobre mim, sobre quem eu precisei me tornar e as escolhas que fiz.
Leva tempo, mas a gente floresce, as raízes se firmam, as folhas são aparadas e com o passar da vida os frutos brotam.
E comigo não seria diferente. 
Ainda estou tentando descobrir quem eu escolhi para ficar ou talvez quem foi separado para permanecer
Parti arestas que doeram e outras nem tanto, apesar do tempo.
Talvez eu volte,
essa é apenas a primeira parte de tanto que ainda tenho a falar.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Pensei que silenciando as palavras, diminuiria meu coração. Que bobagem a minha. Não tem como  calar nossa essência, o que corre em nossas veias. Uma dor conhecida percorre meu corpo e eu não sei como a despertei.
Eu já chorei muito nessa vida, minha filha. E provavelmente você também vai chorar. Um senhor uma vez me disse que amar era cuidar, recíproco. E o amor é para os fortes. Amor é para quem está disposto a perder algumas noites, a se afogar em lágrimas e no silêncio.
Quem sabe nessa distância a gente se encontre. Como diz aquela música: " Talvez a gente se encontre, talvez a gente encontre explicação. "
E as palavras? Ah, as palavras que podem nos perfurar e corroer ácidamente. Eu escrevi uma história e ela falava de nós dois. E eu me lembrei porque eu escrevia. É onde eu organizo tudo aqui dentro e separo para você as coisas boas pra essa vida.

Dentro de mim tem uma vontade de te ligar que me enlouquece. Te dizer todos os motivos pelos quais voce deve ficar, mas voce conhece todos eles.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Alice


"Os sentimentos não podem ser ligados e desligados como interruptores de tomada."

Um homem de sorte.

Alice fechou a mala sem olhar em meus olhos. Atravessou o quarto e eu a acompanhei, em silêncio.Qualquer palavra dita agora não mudaria as coisas de lugar.  Cruzei  e descruzei os dedos.1,2,3 vezes. Ensaiei um sorriso. Ela não viu. Acho que nem tinha consciência da minha presença ali. Corri a mão pela parede, tinha um pouco de pó perdido, assim como eu. Seus passos eram tranquilos e suaves, tudo nela costumava ser assim. Ela se virou, eu baixei os olhos. Ela soluçou, eu respirei fundo. O fim era inevitável, mas ninguém estava disposto a partir. É estranho ser tão pouco. Alice era tudo, era grandeza e simplicidade. Alice era única e o nosso amor também. Eu pude sentir seus cílios em minha pele enquanto ela piscava.
"Sinto sua falta." Eu quis dizer. Nossos olhos se encontraram. Um meio sorriso aqui, um olhar perdido lá, mordi os lábios. Ela me conhecia tão bem que doía. "Amar pode doer às vezes." Dizia uma música. E ultimamente doía demais. Arrepiava minha pele e me gelava a alma. E então, ela se foi. Passou pela sala e abriu a porta sem ao menos olhar pra trás.
"Alice." Foi um sussurro inaudível. Ela corria pelo jardim em direção ao nada  e eu apenas a assisti partir levando todos os meus sonhos, os nossos sonhos. 
Alice tinha estrelas nos olhos. E nós éramos eternidade - fração  de segundos.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Parte de mim.


Então,finalmente eu entendi que quando eu dizia que se você estivesse aqui seria mais divertido, riríamos muito, até a barriga doer e você faria escândalos para me ver sorrir, suas respostas eram evasivas não porque você se tornou distante, mas porque você queria isso com a mesma intensidade que eu. E doía, demais.
Costumava doer muito quando se tratava da gente. Mesmo que o calor nos abraçasse, sufocava. Ainda que houvesse o aconchego da alegria, transbordávamos. E era uma frequência avassaladora. Eu perdia o ar, as palavras e a razão. E a única coisa que saia dos meus lábios era aquele vazio. 
Eu sinto sua falta. Sei que vou sentir muito ainda. Porque cada vez que eu penso em você meu sangue esfria. Cada terminação minha sucumbe. E talvez eu nunca consiga realmente te deixar ir. 
Não consigo entender como o foco mudou tanto. O caminhar ficou torto. Os olhos se fecharam e o coração também. Sinto sua falta,repito. Sinto tanto a sua falta que o corpo chega a queimar com essa dor. 
Eu te olho, mas não te percebo. Te escuto, mas não te compreendo. Já não te sinto. Já não me vejo em você. 
Outro dia pensei em te mandar uma música, mas você não leria as entrelinhas. Então eu tentei viver sem ter você. Me fechei por uns momentos e me perdi. 


sexta-feira, 19 de junho de 2015

Vazio

Tem dias que a gente se sente o vazio. O retrato puro e intenso do nada. Noites em que não se sabe pra onde ir. Sem estrela pra guiar. O teu olhar perdido que não pode me ver. Pra depois voltar atrás. Madrugadas frias, sem teu carinho a me cobrir. Sorrisos insustentáveis nos perseguem. Me pego sentada sozinha no meio de um caminho que você tentou seguir. Procuro as palavras certas, as palavras fáceis, mas não encontro. Perdi o jeito. Você me lia tão bem que eu esqueci como dizer. Mas não diga que eu não te quis. A cama ainda está fria, vazia. As marcas nos lençóis são a única prova de que você esteve aqui. E nessa imensidão eu me desencontrei.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Pequenos gestos disfarçados por entre as sutilezas da vida. Guardadinhos como que em um canto qualquer, qualquer de amor. Tão delicados e serenos, como pequenos sonhos. Você me conhece. Você me conhece, isso é tudo. 
Você conhece os sinais guardados em mim. Conhece as simplicidades do meu olhar. E da minha prece. Então me diga por que meus olhos estão marejados? Você se lembra de quando segurei sua mão? E agora estamos aqui. 

quarta-feira, 22 de abril de 2015

03:06


" So let me out, or let me in. And tell me how, we can win. Cause I really wanna know no."

Ali estava eu, de volta a um lugar que pensei que não veria nunca mais. Longe dos contos de fada. E lá vamos nós outra vez. Neste momento eu fecho os meus olhos e me abraço, tentando segurar os meus pedaços que explodem por ai. Uma queda livre. Apenas olhe através dos meus olhos, talvez você veja medo escondido neles. Há um silencio invadindo este quarto. São todas as coisas que eu não encontrei jeito de dizer. Então eu estou aqui, diante de você.  E todas as lembranças me consomem enquanto eu apenas desejo que você me toque. Querido, eu só peço que você me dê fôlego. Olhe através de mim. Eu estou gritando desesperadamente por trás de cada adeus. E não há nada que eu possa fazer agora. Eu fecho os olhos em uma prece e me pergunto o que você vê. Sinto mais um pedaço ir embora enquanto as palavras ecoam na minha cabeça e  me pergunto em que lugar nos perdemos. Apenas olhe ao redor e tente me trazer de volta. Não deixe tudo isso desmoronar. Dê sete passos para trás. Eu só preciso de você aqui perto. Tento caminhar enquanto penso em todas as coisas lindas que você poderia me dizer. E em como estaremos no próximo natal. Sete passos, querido. Queira me dar o seu amor. Ou me liberte. Não podemos colar o que está partido. Então só recomece. Retire de mim esse vazio. É tão fácil. Todo esse tempo as palavras estiveram aqui, gritando. E você sabe que todos esses dias o amor sempre esteve entre nós. Eu apenas espero que você abra a porta. Que você invada o meu coração e floresça ali. Porque nos teus olhos eu vejo tudo o que sempre amei. Mas eles estão nublados agora e essa chuva cai dentro de mim. Eu quero acreditar que tem uma luz guardada ai. Movo as coisas dentro do mesmo lugar. Ninguém disse que seria fácil. Oh querido, eu me sinto sufocar. E todas as noites eu sinto uma felicidade frágil nos invadir. Talvez ela não nos segure se a tempestade aumentar. Então, eu aguento firme. Porque talvez você não saiba, mas há uma imensidão aqui. Uma frágil e simples imensidão. E ela pode ser tudo para você. Apenas me sinta. 

sábado, 18 de abril de 2015

A gente se vai.

A gente se perde.
Num canto qualquer.
Numa esquina a toa.
A gente se perde.

E a gente se busca. / A gente se encaixa. / A gente se tortura.

Pra gente se reinventar.
E nascer de novo.

Desse nosso jeito. / Meio torto. / Meio bobo.

Mas aí você me deixa.
Eu fico doido.
Fico solto.
Fico todo.

Porque ai você se vai.
E não se lembra
Que eu era  a pequena.

E você deixou pra trás. / Tanto faz. / Já não trás.

Tanta paz.

sábado, 4 de abril de 2015

Imensidão

Com tanta coisa pra ser, eu tinha que ser imensidão? 
A gente não escolhe. Mas entre todos você é quem toca o meu coração, a minha alma. Você que não me deixa sair do eixo. Então não sei porque você tinha que ser imensidão. Mas sei que se fosse outra coisa, isso aqui não funcionaria. 
Você fez uma pergunta que não tem resposta. 
 posso pedir pra confiar em mim. Eu não vou te deixar sozinha. Se preciso eu ficaria acordado contigo ate amanhecer. Então desaba aqui em mim, te carregoTodos os dias eu recolho um ou dois pedaços teu e guardo aqui comigo. Você se esforça, luta. 
Mas, às vezes tudo que você precisa é aprender a deixar ir. 
Os dias leves são quando você não tem o que carregar.  Mas nos pesados, você pega todo o peso para si. Carrega o mundo em tuas mãos, pequena. E  não importa qual será o resultado. Não importa se você chorar ou se você sorrir — Eu estarei aqui. 
 Mesmo que você se sinta só, saiba que o meu coração nunca saiu do seu lado. 
Eu às vezes me pergunto: O quanto podemos amar uma pessoa? De quantas maneiras ? Eu achava que sabia... Mas hoje, vejo que não sei mais. Sei apenas que estarei ao teu lado para o que der e vier. O tempo que for preciso. De uma forma ou de outra o meu coração 
sempre estará contigo.
E você nunca mais dirá que está só.

terça-feira, 17 de março de 2015

Você


A coisa aconteceu, existiu. Agora, se você não fizer, a coisa nunca vai acontecer. E aí como se você nem quisesse fazer, pra começo de conversa. Se você não comprar um sorvete quando você quiser um sorvete, ninguém nunca vai saber que você queria um sorvete, até você vai acabar esquecendo e aí é como se nada daquilo tivesse acontecido. Mas esse é um exemplo bem besta, quero mesmo é falar dessas coisas mais importantes, tipo não dizer que ama alguém ou, sei lá, deixar de demonstrar isso. Porque aí é como se você não amasse, e ninguém quer passar a vida inteira sem amar as outras pessoas. (Willian F. de Sousa, trecho do livro ‘Como se chamam os vaga-lumes?’, páginas 184-185)


Memórias são partes recentes. Daquelas que tem mil anos nas costas, mas basta uma brisa para que tudo venha a tona, como se sua existência tivesse iniciado agora. Fiquei tamborilando os dedos, deixando cair um restinho do esmalte que coloria um pouco a mão. O relógio tiquetaqueava. 18:35. Pensei em você. O tempo não volta. Um arrepio percorreu meu corpo. Em quem eu pensava? Já nem sei. Minha mente fugia de vez em quando. Sempre tive medo de que a velhice me trouxesse o esquecimento. Esquecer você. Mas quem era você? Ficava horas pensando sobre as lembranças embaralhadas, chamando seu nome e talvez não te encontrando ali. Olhei tuas mãos, marcadas, com calos. Me lembro de sempre ficar te tocando, gravando cada parte tua  se por um acaso o futuro te levar de mim, das minhas memórias. Queria poder quebrar tudo o que me prende neste momento. Poder estar perto de você. Queria que você me quisesse. Quem é você? Alguém que não conheço se sentou ao meu lado hoje. Sorriu para mim. Lembrei de você. Encontrei suas covinhas nele. Olhei pela janela. Pensei na cor dos teus olhos. Um dia eu os vi? Não sei, minha cabeça anda perdida. Te encontrei. Você estava aqui, dentro de mim o tempo todo.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Sobre estar só.

Deveria haver uma forma mais fácil de aliviar o que carregamos em silêncio. Mas eu continuo com essa mania boba de transbordar. E as noites viram tormentas enquanto meu coração não consegue encontrar paz. Algo se perdeu e nem eu consigo saber o que foi. Só sei que dói. Só sei que se eu me deitasse sobre um papel gigante marcaria cada espaço com as coisas que não consigo encontrar jeito de dizer. Me envolveria nele como se fosse possível transferir tudo o  que assombrou minha noite. Tentaria passar toda a imensidão, como o mar. Me fiz mar. TRANSBORDAR. E aquele adeus. E de tanto que fomos parece que nada ficou. Sempre havia alguém por aqui, mas hoje encontrei a casa vazia, apenas ecos do que se foi. Promessas que não foram pronunciadas se partiram no silêncio. Despencaram por um abismo e nós só assistimos, sem nada fazer para evitar.





Então fica assim: O último apaga a luz. Na porta que não range mais ouvi o barulho mesmo assim.
— Parte de mim , Gram. 

quarta-feira, 4 de março de 2015

MARÇO


Respirou fundo algumas vezes antes de mergulhar na água fria, com a esperança de que aquele gelo quebrasse a dor que ela sentia. [Sufocou] Como sempre fazia quando estava na presença dele. Não sabia o que causava aquilo. A única certeza que tinha é que sua vida nunca mais foi a mesma desde que a deles se tornou uma, para depois ser quebrada. Por mais que ela seguisse em frente, o mundo sempre dava um jeito de rodar para o lado contrário ao dela e cruzar mais uma vez o caminho deles. E, mesmo prometendo a si mesma fingir que nunca o conheceu,bastava apenas ouvir o seu nome para tudo voltar a tona. Às vezes não era tão intenso, mas haviam dias como hoje, em que um simples cheiro trazia de volta as alegrias e tristezas daquele amor. Ou desamor. Porque amor mesmo não acaba como aquele acabou. E ela caminhava, mais um dia, em direção a sua cama, contando que a noite os sonhos não lhe trouxessem ele. Pedindo aos céus que o dia seguinte viesse limpando toda a devastação que a presença dele causou na vida dela.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Arremendo

" Há meros devaneios tolos a me torturar. Fotografias recortadas em jornais de folhas. "   

— Chão de giz, Zé Ramalho. 


Eu me pergunto quanto pode caber em um silêncio. Quantas metades te fazem um inteiro? Tento achar uma saída que me ajude a te curar. A me curar. Eu olho pro relógio enquanto te espero adormecer. Quando vejo teus olhos descansarem e teu rosto refletir um sono tranquilo eu levanto vôo. Delicadamente eu tento tirar todos os curativos e tratar suas feridas. E enquanto eu o faço vou cantando. Não sei o que é, mas você sorri enquanto eu canto, então eu simplesmente faço isso todas as noites. Cuido de cada pedacinho quebrado. Alguns talvez sejam culpa minha, então eu tento cuidar melhor. Ás vezes você não percebe, mas eu estou aqui. Acho que sempre estive. Não consigo achar outra coisa para fazer que não seja estar aqui por você. Você se remexeu muito essa noite. Um arremendo. Quanto cabe nessa imensidão que é você? Quão alta foi a queda? Quão profunda são essas marcas que meus olhos não podem ver, mas que meu coração sente? Espero que você encontre sua morada, sua casa, seu lar. Abra suas asas pequeno anjo. Elas estão ai, guardadas dentro de ti. Abre os olhos, o coração, alivia sua alma. E assim eu te cobri e você adormeceu, sereno e indescritível

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

JANEIRO

Como podemos amar inteiro e se sentir tão metade ? Olhar o céu e sentir toda aquela intensidade, mas não queimar ? Ela era assim. Ela ia do tudo ao nada. E um minimo silêncio era o suficiente para devastar o sorriso mais encantador que ela tivesse dado. Mas amor, não foi por querer. E o amor a curava, mas também a destruía. Virou mais uma rua. Andava a passos largos, quase correndo. Respirou fundo. O oxigênio faltou. Escorregou na parede devagar. Levou as maos ao peito, quase como se tentasse seguras os pedaços de si mesma. O mundo girou. Era uma dança solitária e fria. Rodopiando de um jeito que a fazia querer correr. Mais uma vez tentou respirar, mas tudo estava entalado. As palavras guardadas a sufocavam. E todos os dias ela tentava apenas sobreviver a tudo isso. Conseguir chegar ao fim do dia. E então , ela transbordaria. "No dia seguinte tudo estaria bem. " — ela pensava. Um jeito falho de enganar a si mesmo. Mas ainda assim, ela era imensidão no meio de tudo isso. A imensidão mais bonita que meus olhos já conseguiram ver. E assim, ela se foi.