terça-feira, 17 de março de 2015

Você


A coisa aconteceu, existiu. Agora, se você não fizer, a coisa nunca vai acontecer. E aí como se você nem quisesse fazer, pra começo de conversa. Se você não comprar um sorvete quando você quiser um sorvete, ninguém nunca vai saber que você queria um sorvete, até você vai acabar esquecendo e aí é como se nada daquilo tivesse acontecido. Mas esse é um exemplo bem besta, quero mesmo é falar dessas coisas mais importantes, tipo não dizer que ama alguém ou, sei lá, deixar de demonstrar isso. Porque aí é como se você não amasse, e ninguém quer passar a vida inteira sem amar as outras pessoas. (Willian F. de Sousa, trecho do livro ‘Como se chamam os vaga-lumes?’, páginas 184-185)


Memórias são partes recentes. Daquelas que tem mil anos nas costas, mas basta uma brisa para que tudo venha a tona, como se sua existência tivesse iniciado agora. Fiquei tamborilando os dedos, deixando cair um restinho do esmalte que coloria um pouco a mão. O relógio tiquetaqueava. 18:35. Pensei em você. O tempo não volta. Um arrepio percorreu meu corpo. Em quem eu pensava? Já nem sei. Minha mente fugia de vez em quando. Sempre tive medo de que a velhice me trouxesse o esquecimento. Esquecer você. Mas quem era você? Ficava horas pensando sobre as lembranças embaralhadas, chamando seu nome e talvez não te encontrando ali. Olhei tuas mãos, marcadas, com calos. Me lembro de sempre ficar te tocando, gravando cada parte tua  se por um acaso o futuro te levar de mim, das minhas memórias. Queria poder quebrar tudo o que me prende neste momento. Poder estar perto de você. Queria que você me quisesse. Quem é você? Alguém que não conheço se sentou ao meu lado hoje. Sorriu para mim. Lembrei de você. Encontrei suas covinhas nele. Olhei pela janela. Pensei na cor dos teus olhos. Um dia eu os vi? Não sei, minha cabeça anda perdida. Te encontrei. Você estava aqui, dentro de mim o tempo todo.

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