segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Alice


"Os sentimentos não podem ser ligados e desligados como interruptores de tomada."

Um homem de sorte.

Alice fechou a mala sem olhar em meus olhos. Atravessou o quarto e eu a acompanhei, em silêncio.Qualquer palavra dita agora não mudaria as coisas de lugar.  Cruzei  e descruzei os dedos.1,2,3 vezes. Ensaiei um sorriso. Ela não viu. Acho que nem tinha consciência da minha presença ali. Corri a mão pela parede, tinha um pouco de pó perdido, assim como eu. Seus passos eram tranquilos e suaves, tudo nela costumava ser assim. Ela se virou, eu baixei os olhos. Ela soluçou, eu respirei fundo. O fim era inevitável, mas ninguém estava disposto a partir. É estranho ser tão pouco. Alice era tudo, era grandeza e simplicidade. Alice era única e o nosso amor também. Eu pude sentir seus cílios em minha pele enquanto ela piscava.
"Sinto sua falta." Eu quis dizer. Nossos olhos se encontraram. Um meio sorriso aqui, um olhar perdido lá, mordi os lábios. Ela me conhecia tão bem que doía. "Amar pode doer às vezes." Dizia uma música. E ultimamente doía demais. Arrepiava minha pele e me gelava a alma. E então, ela se foi. Passou pela sala e abriu a porta sem ao menos olhar pra trás.
"Alice." Foi um sussurro inaudível. Ela corria pelo jardim em direção ao nada  e eu apenas a assisti partir levando todos os meus sonhos, os nossos sonhos. 
Alice tinha estrelas nos olhos. E nós éramos eternidade - fração  de segundos.

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