Bati no peito numa tentativa de aliviar o coração que pesava
como chumbo. Olhei pela janela a fora, tentando encontrar as palavras certas e
sabia que todas as portas só levariam esse relacionamento de volta ao mesmo
lugar. Estava tudo deserto dentro daquela alma, o amor que antes ali habitara
agora não era mais que um sopro num deserto cheio de dor. Quando se tem a
pureza partida, como eu tive, fica difícil acreditar que a vida continua e que
as exclamações do corpo não são só um pedido de socorro, mas muito mais do que
isso, são o som da morte. As mãos trêmulas eram quase um grito, um som que se
propagava naquele lugar silencioso. Já não suportava ouvir uma única canção,
porque toda a nossa história havia sido escrita pelas composições alheias que
entoavam e davam vida aquele romance. Ele fora bem claro ao sair naquela manhã
frigida de Janeiro, deixando apenas o odor do mofo naquela sala agora
desabitada. E agora eu já não sabia mais qual o caminho a ser tomado. Os céus
testemunham a minha dor, meu sofrimento corre pelas minhas veias. É muito
difícil tomar suas próprias decisões e aprender que agora a vida segue e você
tem que caminhar sozinha. Havia lágrimas em meus olhos quase que o tempo todo.
Uma saudade misturada com solidão. Nunca fui de beber, mas bebia quase todos os
dias a minha tristeza. Me deram uma dose de amargura bem batida e eu me viciei.
Eu era muito jovem pra ter tido meu coração partido e eu o amava tanto, com uma
pureza que inebriava a vida e a preenchia de luz e cor. Esta mesma sala um dia
tinha sido colorida, cheia de sons e de cheiros maravilhosos, mas isso foi
muito antes de tudo se perder. Perdão se as palavras não parecem fazer muito
sentido, meus pensamentos andam muito desconexos e em alguns momentos eles
mudam mais rápidos do que meus dedos são capazes de escrever. Ele era mais
lindo do que minha mente pode lembrar. E quando eu me desesperava, diante da
realidade de nossas vidas seguirem caminhos diferentes, ele vinha e me
acalentava com palavras de ânimo. Eu amava quando ele dizia que não conseguiria
mais viver sem mim, que não entendia como pôde não ter me conhecido antes. E no
fim das contas eu só estive cavando meu próprio buraco enquanto alimentava essa
ilusão de que tudo seria para sempre. Chora
menina, deixa a lágrima lavar essa tua alma pequena, esse teu coração gigante,
que mal cabe em ti e precisa urgentemente encontrar alguém com quem dividir-se. E tudo o que eu queria era ter
aqueles olhos procurando por mim. Só por mais uns instantes poder ouvir a voz
dele sussurrando o meu nome enquanto aquelas mãos, tão minhas, me abraçavam e
me faziam ir à um lugar só nosso. Não consigo dormir, ao menos não no horário
normal. Passo muito tempo pensando em nós. Sinto a dor, a ausência, o vazio.
Onde antes eu só sentia amor, agora habita um sentimento desconhecido por mim.
São 1:58 e eu só consigo pensar no que ele está fazendo uma hora dessas e nas
mil razões que podem tê-lo feito partir, apesar de ter me dito que nunca seria
capaz de me deixar, que me perder seria pior do que morrer. E agora onde
estamos? Aonde está você,
querido? Que não está aqui
pra me dizer que tudo isso vai ficar bem. Aonde está o seu coração que já não
me pertence? Para onde tudo isso foi, que se perdeu nessa imensidão de
incertezas?
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