sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Sem culpas

FotoTalvez eu nunca descubra os motivos que sempre me fazem voltar a esse lugar caótico. Mas o que importa é que mais uma vez eu estou aqui. E eu não sei se quero deixar esse circulo, porque ele que me faz criar todo esse outro mundo. E eu me lembro perfeitamente de quando eu era uma garotinha e nada me trazia medo, mas agora que está anoitecendo eu só posso ver esse caminho escuro e me sentir perdida. Parece que as árvores ao meu redor estão crescendo e crescendo e sugando todo o ar, então eu me deito no chão e deixo o frio me abater, eu me contorço de todas as maneiras possíveis repetidamente, numa esperança de aliviar a dor que explode de dentro pra fora, deixando pedaços de mim espalhados pela mata vazia. Eu sinto muito, sinto mesmo, porque um dia eu pisei no lugar errado. Parece que essas palavras soam frívolas, mas por favor, acredite, não são. Elas são apenas o eco de tudo que se acumula aqui dentro. Eu precisei sair e fugir, para não desmoronar na frente das pessoas que eu amo, para não magoa-las, ninguém entenderia o peso de um choro abafado. Mas aqui fora eu posso me sentir melhor, eu posso sentir as pernas leves para andar. É quase como uma sina, uma praga, uma coisa dessas qualquer. Eu espero o dia em que não terei que retornar aqui para descarregar o peso do meu coração atormentado. Eu anseio o momento em que essas lembranças sairão na agua do chuveiro, de um banho morno. Eu acredito no momento em que ouvirei uma música sem que ela me lembre algo triste. Eu quero poder andar pelos lugares que eu costumava andar sem sentir uma guinada me sugando pro buraco negro que se tornou fugir de você, fugir do medo. Eu te deixei ir quando você pediu, mas isso nunca significou que eu fosse esquecer. Não sinto falta de pessoas, sinto falta do momento, do sentimento, do sangue correndo nas minhas veias e me fazendo vibrar. Senti falta das palavras, que eu silenciei por tanto tempo e que agora correm por aí, desesperadas para serem escritas. Certas coisas nunca mudam, me desculpe, mas mais uma vez eu preciso fingir. E você se foi antes que eu pudesse arrumar as coisas quebradas. Agora sou só eu, perdida nesse lugar tão vazio. Posso sentir o cheiro das perguntas que nunca serão respondidas e os espaços vagos que nunca serão preenchidos. A bagagem é pesada, como os seus passos quando você se foi. O bater da porta ainda ecoa no grande vazio que se seguiu a solidão. E as muitas coisas que eu escrevi pra nós sempre pertenceram somente a mim. Nunca existiram os planos de nós dois e eu não sei como pude acreditar que isso iria acontecer. E a chance pra tudo acontecer direito vai estar bem na minha frente, basta eu escolher voltar pra casa, basta que eu levante e enterre essa dor na floresta vazia e siga sozinha em mais uma noite. Saindo em segredo, para que ninguém descubra a profundeza dos meus sentimentos.

“Eu não acho que seja possível preencher um espaço vazio com aquilo que você perdeu. Não acho que nossos pedaços perdidos caibam mais dentro da gente depois que eles se perdem. Agora foi a minha ficha que caiu: se eu de alguma forma a tivesse de volta, ela não encheria o buraco que a perda dela deixou.”
— O Teorema Katherine

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