Menina de Sampa

Poderia ter sido ontem. Ou quem sabe na festa de final de ano que teve na casa da Gabi. Fiquei lembrando daquele dia na biblioteca, quando a gente se esbarrou sem querer. Mas aí não tinha como porque você namorava a Lia. Então veio o São João e eu achei que beijaria você naquela barraquinha do beijo, mas trocaram de funcionário bem na minha vez daí eu desisti e você me chamou de medrosa. Quem sabe naquele churrasco na casa de um amigo seu que você me levou. Nunca vou me esquecer de você me ligando em plena 03:00 da manhã e dizendo: Bel, tem um churras amanhã em outra cidade, vamos ?  E você não parou de me ligar até eu dizer que ia. Mas não foi nesse dia. Nem em nenhum outro que se seguiu. E veio aquela temporada de chuvas. E você me levava em casa todos os dias depois da aula. Éramos eu e você pelas ruas desertas. Eu chegava ensopada, mas só de ter estado na tua companhia já me bastava. Então veio o fim do ano. E aquela festa. Mas como eu disse antes, não foi nenhum desses dias. Eu ficava pensando sentada na minha janela vendo o dia nascer, se isso só aconteceria quando eu já estivesse mais velha, quem sabe você se casasse, tivéssemos filhos e aí, um dia eu encontraria você em um lugar qualquer. Conversaríamos sobre como a vida mudou e você diria pra mim as palavras que sempre quis ouvir. Mas estaríamos presos em outras pessoas. E seria um amor impossível, como tem sido por todos esses tempos. Seria o típico final pra mim, que sempre gostei dessas coisas. Mas não tem acontecido. E sei que por um longo tempo vai ser assim. Recebi sua carta hoje de manhã cedo. Você aí, tão longe. Eu no sul, você no norte. Poderia ter sido qualquer uma, mas foi pra mim que você escreveu. " Bel, minha menina. Aqui no norte é tudo tão verde, sinto falta do cinza daí de Sampa. Sinto falta da minha menina. Você vem me ver no outro mês, né minha pequenina?"  Como posso ler isso e ficar triste? Sinto tua falta Lu. Sinto muita saudade mesmo. Saudade de ouvir você falando roucamente que eu sou baixinha, mas que você me ama mesmo assim. Sinto falta de você me acordando de madrugada falando que não consegue dormir, mesmo que a sua namorada fosse outra e não eu. Sinto falta de ir bater na tua porta altas horas da noite, pedindo pra você fazer um nescau quente pra mim. Preciso de todas essas coisas que me completam. Então Lu, se não for agora, não sei mais quando pode ser.