Amargo
Acordei depois de uma noite de sono bem dormida. Era o mínimo de luxo que eu poderia me dar depois de tantos meses insones. Essa era mais uma página de um livro que eu abria e tentava não transformar em algo triste e desesperador. Não que a culpa fosse minha, mas ultimamente tudo estava ficando assim. E quando digo tudo, era tudo. O café ficava negro demais, amargo demais, depressivo demais. As nuvens, sempre tão brancas, ficavam mudando muito de cor ultimamente. E as palavras que antes você lia, agora se acomodaram em algum lugar aconchegante e esquecido. Me sentei na varanda com o meu café, sim, amargo pra variar. E fiquei pensando quanto tempo eu levaria pra te perguntar até quando aquelas palavras iriam ficar ali. Imaginei uma cena em que eu iria até você e te daria um livro com todas elas organizadas e coerentes, mas na verdade o que mais pensei era se aquelas palavras teriam prazo de validade. Atropelei as palavras dentro de mim e joguei pra fora, mas elas também se acomodaram naquele lugar já tão acolhedor. Algumas coisas tendiam a se perder e eu já não sabia se estava ficando velha e cansada ou simplesmente tinha desistido de lutar e havia me tornado como aquelas palavras - acomodada. Talvez eu tenha me acomodado mesmo, talvez o mundo me cansou e me envelheceu, porque eu me lembro dos dias de força em que eu dava o meu melhor e apesar dos pesares, eu não desistia de continuar tentando. Agora, bem - uma pausa pra uma risada envelhecida e sarcástica. - eu andava mais mandando todos de volta pra sua mãe. ( leia:xingamento.) Não dá pra ser a boazinha o tempo todo. Então eu pensei que na verdade eu tava só dando um tempo, sabe? Um tempo da vida, da luta, de ser Dom Quixote. Eu tava deixando a maré me levar. Pra um dia você acordar e perceber que eu andei pra direita e você, bom, eu não sei. E aí, talvez dê pra achar meu passos pelo caminho, ou então eu tenha aprendido a voar e dessa vez, a minha doçura virou asas e você ficou esquecido por aí, acomodado.
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