Tranquilidade, sem uma xícara de café

Talvez você nunca saiba o número de vezes em que meus olhos se encheram de lágrimas depois de desligar o telefone, encerrando uma ligação em que ambos sabiam que não havia assunto, porque um dos lados da linha estava cansado e estressado demais pra fazer isso valer a pena. Talvez nem eu saiba o motivo de estar falando isso, mas eu precisava. Tinha que falar pra distrair a mente e evitar um chororô ter seu início. Evitar que a minha cabeça começasse a maquinar e pensar coisas que nunca existiram. Pra ver se assim a noite não ficava tão sem graça e vazia. Uma esperança de que esse arrepio seja pelo frio lá de fora e não pelo medo. Eu prendo o cabelo, meio torto, com um certo ar de graça, pra ver se as mãos se perdem e esquecem esse aperto aqui dentro. Fico batucando os dedinhos pelo teclado fazendo sair palavras sem sentido. Tudo o que eu queria era poder avançar alguns anos, parar no momento em que eu podia estar bem pertinho e fosse me deitar do teu lado na cama, pra ter uma noite quente e feliz, tranquila. Tranquilidade, é essa a palavra. Eu poderia descrever você assim. T-r-a-n-q-u-i-l-i-d-a-d-e. Engraçado não? A maioria das pessoas teriam perto de si uma xícara de café, mas meu bem, você sabe como eu ando ruim e tenho somente um suco de manga e alguns biscoitos e isso não me ajuda muito a pensar. Ando querendo calor, afago, fogo. Sei não, mania boba minha de querer você nesses horários tão inoportunos. Mas se eu fosse você descia de pijamas mesmo, ligava o carro e vinha aqui, fugiríamos por essa noite. Iríamos ver o mar, juntinhos, até o sol nascer, como uma vez a gente fez. Tanta coisa mudou. Que pena que isso também. Sinto falta dessas loucuras-de-madrugada que a gente tão recém unidos costumava fazer. Não deixa isso morrer não, vem aqui. Pode me ligar a hora que for, eu escrevo um bilhete, deixo na porta da geladeira e saio com você.  Mas agora preciso ir. Não adianta forçar, as palavras querem dormir.