Levantou cedo, não conseguia mais ficar deitada na cama, parecia que o mundo a sufocaria se continuasse ali. Tentou tomar café, mas havia um embrulho no estômago. Tinha sonhado com ele, tinha que ter sido com ele. Ela sabia. Acordara com a aquele calor no peito. O mesmo calor que sentia quando ele a olhava e sorria pra ela, o calor dos olhos claros dele. Agosto. Mais um mês. O mês do infinito, do eterno, o 8. Pensou em ligar pra ele, mas não tinham esse hábito, seria estranho tentar passar mais de cinco minutos com ele ao telefone. Antes que pudesse pegar o celular, ele lhe mandou uma mensagem. Respirou fundo e procurou pelo celular que havia vibrado.
❝ ohhh.. bom dia minha preguicinha :)
Adorava esses apelidos bobos. A forma que ele a tratava e lhe deixava sempre tão feliz. Tinha momentos, no meio da noite, em que ela tinha vontade de calçar os chinelos, pegar seu cobertor, seu ursão de pelúcia e correr pra cama dele. Como uma criança corre para a cama dos pais. Chegar na casa dele, por volta das 03:14 da manhã, de pijama e cara de sono e falar que não conseguia dormir, porque o urso não tem mais o cheiro dele. E pedir pra ficar ali, dividindo as cobertas. E se os dois não coubessem na dele, tudo bem, ela trouxera o dela.
Então era mês do infinito. Abril, maio, junho, julho e ele, o 8. O quinto mês já. O quarto dia de mais um mês. Ela sabia bem que hoje era mais um dia importante. Todos eles sempre foram. Mas, hoje fazia exatamente um mês desde que tudo tinha se tornado oficial. Um dia pra ser lembrado. Pensou em mil coisas pra fazer, mas apenas uma gritava constantemente. Tudo que importava era passar o dia com ele, queria voltar ao lugar onde tudo começou. Andar pela praia de noite, até tarde. Ficar por ali, no carro ou na calçada. Andando pela beira do mar, sentindo frio, mas estando com ele.
A verdade é que sempre estiveram juntos. Desde que foram um só. E olha que coisa engraçada. Foi em um dia infinito de um mês qualquer. Consegue entender? 8, sempre o oito. E desde desse eterno, ela consegue vê-los juntos. Ela imagina eles dois, em uma cozinha, nem grande nem pequena, do tamanho exato, fazendo comida. Brincando. Enquanto ele suja o rosto dela com maionese caseira, ela vai passar molho de tomate nos braços dele. Eles se beijarão e esquecendo toda a comida que vai ficar por fazer, vão se abraçar, andar pela casa, colocar um colchão no chão e serão um. Mas não será tudo tão rápido assim,sabe? Vai ser devagar. Ele vai limpar o rosto dela, ela vai pedir desculpas por tê-lo sujado com molho. Ele vai segurar uma mecha teimosa do cabelo dela, vai olhar bem fundo, lá dentro daqueles olhos castanhos e vai dizer que a ama. Lágrimas vão brotar. Ela, antes por cima dele vai passar para baixo. Suas mãos deslizarão pelas costas nuas dele. Ela o ama também. Eles se amarão. Depois disso, nada como um banho quente, pra ela poder olhar os cabelos dele molhados, o rosto corado pelo calor. Ela vai morder o lábio inferior, vai olhar pra baixo. Ele vai puxar o rosto dela, cheirar o pescoço, abraçar por trás. Quando os olhos se encontrarem ela vai sussurrar baixinho, eu te amo.
Um dia as crianças vão chegar. Ela quer que eles tenham os olhos dele. Cópias daquele olhar lindo que ele tem. Miniaturas dele andando pela casa. Que invadirão a cama deles no meio da noite. E ele que sempre foi espaçoso, vai aprender a dividir espaço com mais alguém. A parte deles que se torna exterior.
Essa certeza vem brotando constantemente no coração dela. Por tantas vezes disse eu te adoro,mas com uma vontade imensa de soltar um sonoro eu te amo. Ela vai na casa dele hoje. E mesmo temendo não ouvir o mesmo, essas palavras vão sair de dentro dela. Ela ficou sentada o dia todo, pensando o porque de nenhuma outra palavra fazer sentido. Parece que dizer que adora já não é suficiente, já não abrange tudo que eles tem. É amor. Mesmo que ainda não tenham passado um ano, nem dez. É amor. Ela sabe disso. Quando fica ali, deitada nos braços dele, numa noite de junho ou de julho, sentindo aquela paz, ela sabe que é amor. Quando as mãos dele no cabelo dela a fazem dormir, é amor, ela sabe que é amor. Quando ele pega a mão dela e coloca na sua perna e a prende ali com um carinho enquanto dirige, é amor, ela sabe que é amor. Por todas essas coisas que só eles tem juntos, ela sabe que é amor, só pode ser amor.

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